Sobre o projeto
O projeto tem o objetivo de implantar uma Rede de Apoio ao Cuidado de Feridas Crônicas no município de Niterói, formada por unidades de saúde da prefeitura e da UFF: Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, Ambulatório de Reparo de Feridas e Cuidados Paliativos, Faculdade de Farmácia e Farmácia Universitária. Na implantação dessa rede será realizado o diagnóstico situacional da rede de tratamento de lesões do município, a identificação do perfil epidemiológico de populações portadoras de lesão, capacitação de recursos humanos, a produção pela farmácia universitária de produtos para o tratamento de lesões, a implantação de ações de suporte técnico especializado relacionados à avaliação clínica/microbiológica das lesões e a criação de uma página na internet com informações técnico-científicas.
O que foi feito até aqui
Foram entrevistadas 101 pessoas em situação de rua, caracterizado seu perfil epidemiológico, social e clínico. A maioria dos entrevistados era do sexo masculino (72%), mediana de idade de 42 anos, sendo, em maioria, da raça preta (48%) e
separado/divorciado (50%). Quanto ao tempo em que o indivíduo vivia em situação de rua, houve mediana de cinco anos, sendo o tempo mínimo de 15 dias e tempo máximo de 60 anos.
A violência foi relatada por 50% dos entrevistados, bem como o impedimento de entrarem em determinados locais. Os principais motivos de ida para a rua foram o conflito com familiares, seguido do desemprego e uso de drogas. As drogas mais utilizadas foram maconha (45%), seguido da cocaína (34%), do crack (13%). No contexto da pandemia, 22% dos entrevistados relataram que a pandemia os trouxe para rua, e mais da metade da população em situação de rua (65%) já havia se vacinado.
No que tange às doenças de base, 43% apresentaram hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus e epilepsia. No tocante à integridade da pele, 32% relataram não ter ferida ou cicatriz, 59% referiram presença de cicatriz e 9% de lesões abertas, sendo as cicatrizes de lesões traumáticas, decorrentes principalmente de armas brancas e traumas do cotidiano da rua, bem como lesões como úlcera venosa, mordida de ratos, furúnculo e traumas. A chance de um morador de rua que sofre violência ter lesão aberta é 9,5 vezes maior. O que não tem ocupação é de 5,2 vezes
maior de ter lesão aberta. Quanto ao uso de substâncias ilícitas, estima-se que a chance de um morador de rua que é etilista ter lesão de pele é 4,1 vezes maior.
Enquanto, que usa maconha ter lesão de pele é 3,1 vezes maior.
Comparando as estatísticas, observa-se que as pessoas que têm lesões de pele vivem na rua há um tempo significativamente maior do que as pessoas que não têm lesão de pele, a diferença na média é de 5,5 anos. Os achados do presente estudo demonstram população adulta, majoritariamente masculina, apresentando cicatrizes, com histórico de lesões traumáticas, decorrentes do período em que se encontram nas ruas. Essa temática é multifatorial e necessita de estudos acerca dos determinantes sociais de saúde que fortaleçam as discussões na academia e sociedade e possibilitem a criação de políticas públicas para essa população.
Para tal análise, foram visitadas mais de 30 policlínicas para traçar o perfil dos profissionais de saúde e das condições de atendimento aos pacientes com lesões. Também foram entrevistados profissionais de saúde que atuam na rede básica, confeccionado material educativo para os cursos e treinamento dos profissionais e apresentado trabalhos em eventos.
Além disso, foi desenvolvido um grupo de pesquisa sobre lesões em populações vulneráveis, com enfoque na população em situação de rua, além de estar sendo elaborado uma disciplina optativa para o próximo semestre acerca do tratamento de lesões, tendo uma aula abordando o tratamento de lesões na população em situação de rua.
Próximos Passos
- Finalização dos objetivos relacionados ao Diagnostico Situacional, que irão subsidiar a execução dos objetivos ligados a Capacitação de recursos humanos
- Executar os objetivos que tangem a Consolidação a Rede de apoio ao cuidado de feridas crônicas no Município de Niterói
- Há perspectivas de continuidade do projeto, principalmente no que tange a capacitação dos profissionais de saúde
FICHA TÉCNICA
Secretaria Responsável: Secretaria Municipal de Saúde – SMS
Duração: 36 meses
Valor do projeto: R$ 234.172,18
Departamento UFF: Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa
Coordenador: Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira
Público – alvo: Profissionais de saúde e população com lesões, sobretudo populações vulneráveis, como a população em situação de rua.
Onde atua geograficamente: todo o município de Niterói, com destaque à Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa – UFF, Ambulatório de Reparo de Feridas – HUAP e o Laboratório de Microbiologia.
Equipe Envolvida: Equipe formada por multiprofissionais enfermeiros e farmacêuticos, sendo composta por sete pesquisadores/professores universitários, dois alunos de pós-doutorado, uma aluna de mestrado e seis alunos de graduação, sendo três bolsistas e três voluntários.
O projeto é inovador porque estabelece uma relação direta entre pesquisadores da Universidade e profissionais de saúde que atuam no município de Niterói, também faz levantamento epidemiológico, clinico e social de populações vulneráveis possibilitando o desenvolvimento de processos para assistência a esta população com tecnologias sociais.
Políticas Intersetoriais que dialogam com o projeto:
ODS: 3 – saúde e bem-estar
Objetivo PPA 2022-2025 relacionado: “Promover a saúde e bem-estar da população, o acesso equitativo e universal aos serviços ambulatoriais, emergenciais e hospitalares no SUS e o desenvolvimento do conhecimento científico, bem como fortalecer a atuação em relação à vigilância sanitária, monitorando variações no processo saúde-doença, identificando precocemente as alterações e intervindo oportunamente a fim de evitar o adoecimento coletivo”.
NQQ: O presente projeto vem de encontro com o Planejamento Estratégico Niterói que Queremos (2013 – 2033), nos eixos “Niterói Saudável” e “Niterói Inclusiva”. O presente projeto está refletindo na execução de tais objetivos através da reestruturação e do fortalecimento da rede de atendimento à população com lesão de pele, ministrando cursos para os profissionais de saúde visando atualização dos mesmos, bem como incluindo populações vulneráveis, como a população em situação de rua, buscando diminuir as desigualdades sociais.
Política Pública: O presente projeto, ao ter como público-alvo a população em situação de rua, dialoga com a política pública do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), que atua de forma itinerante nas diversas regiões da cidade. Lá são oferecidos encaminhamentos para retirada de documentos que incluem RG, certidões de nascimento e casamento e carteira de trabalho. Além da documentação civil, as unidades de acolhimento ainda prestam atendimento aos grupos vulneráveis com assistentes sociais, psicólogos, orientação jurídica, encaminhamento para serviços de saúde, trabalho e renda. O objetivo principal é construir com os acolhidos um trabalho que culmine na sua autonomia e reinserção social.